Como brincar com uma criança com autismo?

Como envolver uma criança com autismo em brincadeiras divertidas e estimulantes?

Brincar ajuda as crianças a desenvolver habilidades que são importantes para a aprendizagem e desenvolvimento. De um modo geral as crianças com autismo podem não ter grande interesse em jogos ou brincadeiras que são típicas ou normais para crianças da mesma idade.
As crianças autistas podem precisar de ajuda para aprender a brincar de modo a desenvolver suas habilidades, tendo em conta que diferentes tipos de atividades desenvolvem diferentes habilidades.

Geralmente as crianças com autismo não brincam “como as outras crianças” e muitas preferem atividades que aos nossos olhos não se parecem sequer com brincadeiras e podem também preferir brincar sozinhos. Isso pode dificultar a interação com os pais e por vezes pode até ser difícil descobrir como brincar com seu próprio filho.
Muitos pais acabam por sentir mágoa ou tristeza quando seus próprios filhos os ignoram. Quando damos a mão ao nosso filho e ele nos ignora, quando abraçamos nosso filho e ele se afasta, quando tentamos brincar com o nosso filho e ele parece alheio a tudo – é extremamente difícil encontrar energia emocional para continuar a tentar. O que os pais não podem esquecer é que os filhos gostam deles mesmo que não o consigam expressar.

Ao contrário da maioria dos pais, que pode simplesmente marcar encontros com outros pais para relaxar enquanto os filhos brincam juntos, e instintivamente praticam interações simbólicas e constroem relacionamentos – os pais com crianças autistas não têm esse luxo, o seu papel no desenvolvimento dos filhos é muito mais intenso e desgastante.
Outro obstáculo, mais fácil de ultrapassar, até é mais simples, muitos pais já se esqueceram de como brincar.

Porque é que é tão “difícil” brincar com uma criança autista?

Nem sempre é fácil chamar a atenção de uma criança com autismo ou mantê-la envolvida. E quando o conseguimos, geralmente ela vai querer fazer as mesmas coisas repetidamente, por esse motivo pode ser difícil quebrar esse ciclo.

As melhores ferramentas que podemos utilizar para envolver estas crianças, pode passar por iniciar uma atividade intrigante, fazer gestos ou sons exagerados para captar a atenção, tomar a iniciativa de introduzir outra brincadeira na altura certa para despertar o máximo de interesse e potencializar uma nova atividade.

Porque é que as crianças com autismo brincam de maneira diferente?

Estas crianças são de facto diferentes e absorvem o mundo à sua volta de modo diferente, mas continuam a ser crianças e também gostam de brincar. Em conjunto poderão ter algumas dificuldades que enquanto pais podemos não nos aperceber facilmente. Estas dificuldades, vão criar barreiras entre eles e a interação social típica. Para além da mais óbvia dificuldade com a interação social, estas crianças podem ter disfunções sensoriais o que faz com que experiênciem certos estímulos de modo doloroso ou incomodativo.

Estas disfunções sensoriais podem ser muito diversas mas por norma são sensações adversas a cheiros, sabores, texturas, sons, luzes e cores. Igualmente, existem as sensibilidades que têm a ver com o movimento do corpo, como andar, correr, saltar, subir escadas, balançar objetos, entre outras. Esta questão pode aparentemente não ser importante, mas é algo que pode alterar directamente a forma como o seu filho irá vivenciar e interpretar o mundo, logo é importante desde cedo tentar perceber se algo aparentemente inócuo é doloroso ou incomodativo para o seu filho e qual a melhor forma de atenuar ou de lidar com essa questão.

Em que diferem as brincadeiras “autistas”?

Crianças com autismo brincam de maneira diferente das outras crianças. Desde muito cedo, as crianças com autismo são mais propensas do que seus colegas a brincar sozinhas, a escolher objetos pouco comuns para brincar, a alinhar ou fazer objetos girar em vez de brincar com eles funcionalmente, a repetir as mesmas ações indefinidamente e de não mostrarem grande flexibilidade para alterações ou mudanças a regras hipotéticas por eles definidas.

As crianças com autismo também são menos propensas a se envolverem em brincadeiras de “faz de conta”, de colaboração, ou que exijam muita interação social.

Algumas das diferenças mais flagrantes:

Preferência por brincar sozinho durante a maioria do tempo, mesmo quando encorajado a participar em brincadeiras típicas.
Incapacidade ou falta de vontade de compreender as regras básicas de uma brincadeira, por exemplo brincar à vez, interpretação de papéis ou seguir as regras de um jogo.
Preferência por atividades que parecem não ter propósito ou que são repetitivas, como por exemplo, abrir e fechar portas, alinhar objetos, acender e apagar as luzes, percursos repetitivos, observar durante muito tempo algum objeto, feixes de luz, pó, brilhos, água a correr, etc.
Incapacidade ou falta de vontade de responder a propostas amigáveis de adultos ou colegas.
Falta de interesse ou aparente incapacidade de compreender brincadeiras simbólicas ou de faz de conta, por exemplo fingir ser outra pessoa ou fazer de conta que dá comida a um boneco.
Aparente alheamento às brincadeiras de outras crianças, por exemplo, ignorar por completo que um grupo de crianças estão envolvidas numa brincadeira sem perceber as regras do jogo.

Porque é que brincar é importante?

Tal como qualquer criança neurotípica, as crianças com autismo também gostam e aprendem através do brincar. Existem seis tipos de brincadeira que são importantes, o jogo exploratório, brincadeiras com causa e efeito, brincar com brinquedos, jogos construtivos, brincadeiras físicas e brincar ao faz-de-conta.

Ao ajudar o desenvolvimento das brincadeiras do seu filho, também o irá ajudar a aprender e a por em prática novas habilidades. Essas habilidades são importantes para o desenvolvimento geral do seu filho. Elas incluem a capacidade de explorar o ambiente, copiar outras pessoas, partilhar objetos, brincar por turnos, tentar perceber o que outras pessoas estão a sentir, a aprender a comunicar e muito mais.

5 Brincadeiras divertidas e simples para estimular a interação social

Saltar ou dançar
Deixe o seu filho saltar no colchão ou no sofá para ficar quase ao nível dos seus olhos. Salte em conjunto com ele (mas no chão) para potencializar a interação entre os dois e para que ele olhe mais nos olhos, imite o seu filho para mostrar que tem interesse naquilo que ele está a fazer. Isso irá potencializar uma relação mais divertida e de cumplicidade entre os dois. Quanto mais ridículo, melhor.

Correr
Correr atrás do seu filho para o apanhar. Comece a ensinar o seu filho a fugir de si quando for atrás dele. Isso vai potencializar a interação social, a brincadeira, ele vai começar a olhar para si para ver quando tem de fugir. É um jogo simples, divertido e eles aprendem as regras rapidamente.

Fazer Cócegas
Ao contrário das brincadeiras que eles mais gostam de fazer sozinhos, as crianças não conseguem fazer cócegas a elas próprias. Essa atividade vai depender directamente de outra pessoa e da interação social. Com as cócegas conseguimos que a criança ria, interaja e brinque, criando laços de afectividade e novas capacidades comunicativas ao brincar com outras pessoas.

Bolhas de Sabão
As crianças têm um fascínio enorme por bolhas de sabão. Com essa brincadeira pode-se desenvolver muitas capacidades. Brinque no chão ou ao nível dos olhos da criança para potencializar ao máximo a interação.
Soprar bolhas pode ajudar no desenvolvimento da atenção conjunta. Pode ajudar a potencializar o contato visual e interação social de forma divertida.

Balões
As crianças adoram balões mas ainda não têm força para soprar e encher, então vão precisar de outra pessoa para isso. Ao encher o balão pode criar a expectativa na criança, esperar que ela peça para encher ou que olhe nos olhos. Depois pode largar o balão e fazer festa ou palhaçada. Depois pode pedir para ele ir buscar o balão. Pode sempre reforçar toda a interação positiva com a recompensa de encher ou de largar o balão. É outra brincadeira simples e divertida para fazer com o seu filho.

Dicas de como tirar o máximo proveito das brincadeiras com o seu filho/a

Por vezes temos de começar pelo mais básico.
Estas são algumas estratégias para tentar entrar no mundo do seu filho:

 Incentive a brincadeira em diferentes ambientes. Por exemplo, se seu filho gosta de brincar com legos em casa, incentive-o a brincar com legos na casa de um amigo. Recompense seu filho por brincar e usar suas habilidades em lugares diferentes e com pessoas diferentes.

Observe seu filho ao longo do dia e procure os momentos em que ele mostra interesse nalguma atividade, por mais banal que esta seja. Pode aproveitar estes momentos para ensinar e aprender.

Aproveite os interesses do seu filho, junte-se às brincadeiras dele, em vez de tentar impor a sua ou de o orientar. Preste atenção aos sinais que demonstrem aborrecimento ou falta de interesse – saber quando parar ou mudar é muito importante.

 Use a brincadeira para ajudar seu filho a desenvolver as habilidades do dia a dia. Por exemplo, vestir uma boneca ou trocar de roupa pode ajudar seu filho a aprender a vestir-se sozinho.

Faça elogios e mostre alegria no brincar. Reforce positivamente o envolvimento da criança. Faça uma festa, cócegas, e bata palmas.

E o mais importante: divirta-se com o seu filho!

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