Terapia Ocupacional Pediátrica

A vida de uma criança é composta por várias ocupações ou atividades diárias. Estas ocupações incluem brincar, comer, vestir, escrever, aprender e socializar. A Terapia Ocupacional (TO), na vertente pediátrica, avalia e intervém com crianças – e respetivas famílias – com o objetivo de otimizar a participação da criança nessas atividades ao longo do dia.

O TO avalia o contexto, os pontos fortes da criança e as suas dificuldades, de forma a delinear uma intervenção que promova o desenvolvimento saudável das competências necessárias ao sucesso nas ocupações.

O TO usa preferencialmente o brincar como forma de proporcionar à criança desafios adequados, estimulando o seu desenvolvimento e melhorando o seu desempenho funcional. Desta forma, a TO é quase sempre divertida para a criança, sendo, muitas vezes vista como um momento de brincadeira.

Assim, as atividades selecionadas durante as sessões são bastante variáveis, atrativas e dependentes da motivação intrínseca da criança. A sala terapêutica é composta por múltiplos materiais, adequados as diferentes faixas etárias, permitindo desafiar a criança em todas as áreas do seu desenvolvimento.

Áreas de intervenção

Perturbação do Espetro do Autismo
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
Perturbações do Processamento Sensorial
Perturbações Globais de Desenvolvimento
Dispraxias
Perturbação da Coordenação Motora
Entre outras

Objetivos da Terapia Ocupacional

O objetivo principal da Terapia Ocupacional é permitir que as crianças participem nas atividades da vida diária. Esse resultado é alcançado através do trabalho que é realizado com a criança, família e comunidade para melhorar a capacidade de se envolver nas ocupações que desejam e precisam, ou através da modificação do ambiente para melhor apoiar o desenvolvimento da criança.

A prática da Terapia Ocupacional enfatiza a natureza ocupacional dos humanos e a importância da identidade ocupacional. Fornece suporte prático para capacitar as crianças, e respetivas famílias, a facilitar a recuperação e superar as barreiras que as impedem de fazer as atividades (ou ocupações) que são importantes para elas. Para além disso, também utiliza a ocupação para manter a saúde ou prevenir a deterioração de determinada patologia.

Áreas de intervenção

Perturbação do Espetro do Autismo
(PEA)

É uma perturbação do neurodesenvolvimento que surge, geralmente, antes dos 3 anos de idade. É caracterizada por défices persistentes na comunicação e interação social, bem como, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, que causam dificuldades significativas no funcionamento da criança.

As primeiras preocupações dos pais relativamente ao desenvolvimento dos seus filhos surgem entre os 12 e os 18 meses, período em que é expectável que as competências de comunicação e de interação se expandam e que a linguagem se desenvolva. Muitas vezes estas preocupações podem ser passageiras, mas noutras situações persistem podendo ser indicadoras de dificuldades específicas a nível do neurodesenvolvimento.

Sinais de Alerta:

Ausência/inconsistência de resposta ao nome
Contacto ocular pouco ajustado para iniciar e manter interações
Dificuldades no envolvimento durante as interações e falta de intenção comunicativa
Falha no uso de gestos – dificuldades no apontar
Ausência de sorriso social
Interesse social reduzido – tendência a isolar-se de pares e colegas
Ausência de jogo simbólico (brincar ao faz de conta)
Apresenta ações repetitivas com determinados brinquedos
Dificuldades em reconhecer e compreender emoções, bem como, na expressão de afetos
Interesses sensoriais específicos (ex.: em luzes ou brilhos)
Comportamentos motores repetitivos e/ou maneirismos motores

Intervenção da Terapia Ocupacional na PEA:

O principal foco é a remoção de barreiras que possam condicionar o atingir de marcos desenvolvimentais, a qualidade de vida e a independência.

Treino de atividades de vida diária, como o uso de casa de banho, vestir-se, escovar os dentes, pentear cabelos, calçar sapatos, e outras competências de autocuidado
Autorregulação
Consciência corporal e relação com os outros
Brincar funcional e resolução de problemas
Manutenção das competências sociais – reciprocidade
Integração dos sentidos, realizado através da abordagem de integração sensorial com objetivo de diminuição de estereotipias
Educação Terapêutica com cuidadores e comunidade, como por exemplo a delineação de uma rotina estruturada

Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
(PHDA)

É uma das perturbações do neurodesenvolvimento que surge antes dos 12 anos. É caracterizada como um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento em pelo menos dois contextos da vida da criança, por exemplo casa e infantário/escola. Manifesta-se em três subtipos distintos: combinada, predominantemente hiperativa/impulsiva ou predominantemente desatenta.

A PHDA não é uma dificuldade ao nível cognitivo, mas sobretudo do comportamento, relacionando-se com o autocontrolo e a inibição do mesmo. Não interfere com a capacidade para aprender, mas sim com a disponibilidade para tal.

Sinais de Alerta:

Levanta-se com frequência da cadeira e agita os pés e mãos quando está sentado
Tem dificuldade em esperar pela sua vez e interrompe as atividades dos outros
Tem dificuldade em manter a atenção e seguir instruções
Desorganização excessiva
Dificuldade em concluir tarefas
Fala excessivamente
Frequentemente responde antes da questão ter sido terminada
Comete erros por descuido
Esquece-se com frequência das atividades quotidianas
Frequentemente evita/ não gosta de atividades que exigem esforço mental prolongado, por exemplo realizar as tarefas escolares
Frequentemente perde coisas que são importantes, por exemplo material escolar
Frequentemente parece não ouvir quando alguém esta a falar com ele

Intervenção da Terapia Ocupacional na PHDA:

O principal foco é possibilitar o envolvimento em atividades, minimizando o comprometimento funcional causado pela patologia, com recurso a abordagens farmacológicas e não farmacológicas.

Prescrição de atividades que ajudem o corpo da criança a desfrutar de sensações sensoriais necessárias antes de se terem que focar para aprender.
Quando está perante um projeto com várias etapas, uma criança com PHDA pode ter tendência a “desligar-se”. Os Terapeutas Ocupacionais ajudam a contrariar esta propensão ao ensiná-la a fasear cada atividade/tarefa e ao manter uma automotivação em cada etapa.
As crianças com PHDA beneficiam de regras, objetivos claros e definição de responsabilidades. É por isso que alguns Terapeutas Ocupacionais usam tabelas que discriminem atividades em tarefas e que reforcem o que é esperado em cada uma delas. Isso irá permitir à criança entender perfeitamente o que é esperado delas numa dada atividade.
As crianças com PHDA estão sujeitas a “burnouts” ou sobrecargas sensoriais, especialmente ao lidar com tarefas ou expectativas inapropriadas para si. Os Terapeutas Ocupacionais aprendem a antecipar estas sobrecargas e umas das formas de “responderem” a esse problema é introduzindo “zonas de tranquilidade”, ou sítios específicos onde as crianças podem ir quando se sentem frustradas, sobrecarregadas ou quando sentem que estão prestes a explodir.
Educação Terapêutica junto dos pais e comunidade para fornecer estratégias para ajudar estas crianças a atingirem o seu potencial.

Perturbação da Modulação Sensorial

Quando uma criança não consegue controlar a reação aos acontecimentos sensoriais pode surgir a disfunção sensorial. Dizemos que uma criança tem uma perturbação de modulação sensorial quando tem uma reatividade excessiva ou insuficiente aos estímulos sensoriais, ou tem uma capacidade muito reduzida de manter o alerta. Esta perturbação manifesta-se quando a criança tem dificuldade em ter uma resposta apropriada em relação à intensidade, natureza ou grau do estímulo sensorial.

Em termos de problemas de modulação sensorial, as crianças podem ser hipersensíveis, hiposensíveis ou manifestar comportamentos de procura sensorial. As crianças hipersensíveis manifestam reações exageradas aos estímulos sensoriais; as hiposensíveis não respondem ou têm respostas diminuídas aos estímulos. As crianças com comportamentos de procura sensorial, anseiam por grandes quantidades de informação para ativar os sistemas sensoriais.

Sinais de Alerta:

Constantemente a mexer em tudo, gostam de se sujar para além da idade expectável, adoram atividades intensas com areia, espumas, etc. (procura sensorial tátil)
Gostam de ouvir música alta, fazem barulhos com todo o tipo de objetos e frequentemente falam muito alto (procura sensorial auditiva)
Procuram todo o tipo de movimento e estão sempre em movimento (procura sensorial vestibular)
Sentem-se incomodadas em espaços com muitos elementos e cores. Mostram-se sensíveis, perturbadas com luzes e pedem muitas vezes óculos escuros (hipersensível visual)
Não gostam de lavar os dentes, são esquisitas em relação à textura e sabor dos alimentos (hipersensível gustativo)
Podem reagir mal a cheiros que os outros não notam, podendo ter vómitos perante cheiros mais intensos (hipersensível olfativo)
Não gostam de atividades físicas motoras (hipersensível propriocetivo)
Podem aparecer arranhados e com pequenas feridas sem que se tenham dado por isso. Mostram pouca sensibilidade à dor (hiposensibilidade tátil)
São descoordenadas e desajeitadas no meio dos outros, esbarram com as coisas e pessoas. Têm pouco equilíbrio (hiposensivel vestibular)

Intervenção terapêutica em Integração Sensorial (IS):

A intervenção terapêutica em Integração Sensorial ajuda a melhorar o processamento sensorial da criança através do brincar e com atividades que realmente funcionam para mudar a forma como o cérebro se conecta. Às vezes os cérebros das nossas crianças não está a trabalhar muito eficazmente e a forma como perceciona diferentes tipos de sensações, como andar de baloiço ou tocar alguma coisa suja é diferente. A Terapia Ocupacional, através do uso da abordagem de Integração Sensorial pode literalmente direcionar o cérebro para percecionar sensações com mais eficácia.
Através da brincadeira, os Terapeutas Ocupacionais especializados em integração sensorial irão fazer cada vez mais atividades desafiantes, à medida que observam que o sistema sensorial da criança está a responder diferentemente. Por outras palavras, que ela está a adaptar-se e o seu processamento sensorial está a melhorar.

Dispraxia

É a dificuldade em planear, sequenciar e executar uma ação motora não familiar, ou uma série de ações motoras. Estas crianças, parecem descoordenadas nas áreas motoras globais, finas e orais. Sentem-se inseguras em relação ao seu corpo no espaço, e têm dificuldade em calcular a distância dos objetos e das pessoas.
Muitas vezes, a dispraxia vem associada a dificuldades na ideação. Quando existe esta dificuldade, a criança tem poucas ideias novas sobre o que fazer, e pode preferir realizar só as tarefas que conhece, sendo inflexível na utilização de novas estratégias.

Algumas crianças apresentam as competências motoras de base, como andar e manter posturas adequadas à idade. No entanto, o desempenho de tarefas motoras mais complexas está comprometido especialmente quando é necessária a sequenciação e adaptação ao timing dos movimentos.

Sinais de Alerta:

Dificuldades a trepar, correr, andar de triciclo ou contornar obstáculos
Manifestam pouca noção do que podem fazer ou como entreter-se
Têm dificuldade em aprender a vestir-se e despir-se
Dificuldades a comer, podem ser trapalhonas, sujarem-se e não usarem corretamente os talheres – são descoordenadas e desajeitadas
Mostram dificuldades em atividades motoras finas, como pintar, manipular objetos pequenos
Dificuldades em atividades que necessitam de antecipação de movimentos em sequência, como por exemplo, correr e dar um pontapé numa bola

Intervenção em casos de Dispraxia:

A intervenção em casos de dispraxia poderá envolver vários profissionais de saúde, cujo objetivo será auxiliar a criança a progredir a nível motor (equilíbrio, tónus muscular, postura, coordenação, etc.), a nível da linguagem, e a nível psicológico. Desta forma, irá ser proporcionada maior autonomia e segurança à criança.

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